Para Cláudio

O que quero de ti não é pouco: a tua amizade.

Pensam os tolos que essas sete letras são algo dado com rapidez, quase displicência. Enganam-se, é claro, pois são tolos.

O que te peço é um universo, não te enganes. O cosmos na palma da tua mão, que estendes na hora do meu riso e no instante em que tento engolir o choro.

Quero carregar comigo os teus dons mais bonitos. Quero a tua expressão de felicidade quando eu for vitoriosa, o teu ar solidário nos dias de sombra, o respeito nos teus olhos quando eu te anunciar meus planos, mesmo que eu fale pelos cotovelos e tu sejas obrigado a dizer: “Calma, respira, pois desse jeito eu nem consigo entender”.

E, ainda assim, não espero de ti bajulação, nem que sejas condescendente quando eu errar. Não, não.O que mais desejo é a honestidade na opinião e o rigor na análise, mesmo que me doa ou desagrade. Quando eu errar, por favor corrige-me com firmeza e bondade. Abraça-me e sê franco. Mostra compaixão pelos meus erros, embora deixes claro que discordas de mim. Adverte-me quando enxergares mais longe, pondera sobre os meus exageros quando a passionalidade turvar a minha visão.

E se algum dia eu, por imprudência ou orgulho, te ofender, espero que me dês o teu perdão sincero. E que eu saiba pedi-lo. Que haja entre nós a sabedoria calma dos que aprenderam a dialogar e a reconhecer que se equivocaram. Que eu jamais esqueça de todo o bem que fizemos um ao outro, de cada instante de leveza e graça na nossa história.

Quero a segurança de caminhar contigo por estradas ásperas, escutando a tua voz me advertir quando eu estiver perdida ou andando às cegas em direção a um abismo. Em troca, prometo te ouvir com humildade, certa de que desejas o meu bem. Eu farei o mesmo por ti e espero que me ouças com atenção.Assim, teremos confiança que o elogio e o aplauso que oferecemos um ao outro é fruto da sinceridade e não de mera conveniência.

Por fim, nunca me vires as costas por causa de mesquinharias, vaidades, mundanidades ou coisas que se paga com dinheiro. Amizade vale mais que qualquer moeda; do que fama ou aplauso. Essas coisas passam, desbotam, consomem-se. Mas tu, não. Tu vives no meu coração.

Tu és eterno.

Imagem: Bartholomeus van der Helst. “Abraham del Court and Maria de Kaersgieter” (detalhe).

That’s what friends are for (Burt F Bacharach / Carole Bayer Sage). Pianista: Sima Halpern

Soneto do amigo

Vinicius de Moraes

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica…