Elza Soares encantou-se. Agora canta entre as estrelas, num paraíso todo seu, fazendo invejinha aos anjos, contando piadas aos santos, sambando em colchão de nuvens, andando de mãos dadas com Jesus-Cristinho.
Ou talvez apenas esteja encantada no cosmos, escorregando em caudas de cometas, vestida de nebulosas, abraçando o seu guri num berçário de estrelas, dando beijos no Mané de pernas tortas e coração amante.
Descanse em meio a ternas memórias, amada Elza. A gente se põe de pé, num aplauso ininterrupto de despedida. Foi uma incrível jornada. Já estamos com saudade da sua graça, mas certos de que sempre teremos a companhia da sua divina voz.
Receba o nosso amor e gratidão.
—
Abaixo, você encontra uma seleção modesta de alguns grandes momentos da carreira da diva brasileira. São os meus preferidos. Impossível não se emocionar com a inesgotável doçura de “Paciência” e a pujante “Meu Guri”, passando por “Lama”, a canção que a lançou para a carreira artística, e a elaboradíssima “Língua”. Todas são a tradução máxima do talento de Elza Soares interpretando algumas das mais belas peças da música popular brasileira.
Abaixo duas frases que traduzem bem Elza Soares.
“Eu não tenho raiva de ninguém e nem tenho mágoa de ninguém, como eu posso ter mágoa com este poder todo que Deus me deu para cantar?“.
‘Um dia descobri que cantava. O meu filho mais velho, João Carlos, estava morrendo e eu já tinha perdido 2 filhos e não queria perder mais um. Eu não tinha dinheiro pra cuidar do meu filho e ouvi no rádio que o programa do Ary Barroso, o Calouros Nota 5, estava com o prêmio acumulado. Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio! Fiz a inscrição e me avisaram que eu precisava ir bonita. Mas eu não tinha roupa nem sapatos, não tinha nada! Então, eu peguei uma roupa da minha mãe, que pesava 60kg e vesti. Só que eu pesava 32kg, já viu né? Ajustei com alfinetes. Tudo bem que agora é moda ne? Hoje até a Madonna usa, mas essa moda, mas fui eu que comecei viu? Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza! No pé coloquei uma sandália que a gente chamava de “mamãe tô na merda”, e fui! Quando me chamaram, levantei e entrei no palco. O auditório tava lotado, todo mundo começou a rir alto debochando de mim. Seu Ary me chamou e perguntou:
_ O que você veio fazer aqui?
_ Eu vim Cantar!
_ Me diz uma coisa, de que planeta você veio?
_ Do mesmo planeta seu Seu Ary.
_ E qual é o meu planeta?
_ Planeta fome.
Ali, todo mundo que estava rindo viu que a coisa era séria e sentaram bem quietinhos. Cantei a música “Lama”. O gongo não soou e eu ganhei. Levei o prêmio e meu filho está vivo até hoje, graças a Deus! De lá pra cá, sempre levo comigo um alfinete. Naquela época eu achava que se tivesse alimentos pros meus filhos, não teria mais fome. O tempo passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim. Há sempre um vazio que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a razão da nossa existência.’
Foto: Stephane Murnier/Divulgação
Meu Guri, de Chico Buarque
Paciência, de Lenine
Lama, em duas versões. 1973 e 2020.
Elza Soares e Baby do Brasil cantam “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo.
Ave Maria no Morro em duas versões: tradicional e jazzística
Elza Soares e Ney Matogrosso. Tem que rebolar
Língua, de Caetano Veloso
Elza Soares e Miltinho cantam “Com que roupa”, de Noel Rosa, e “Se você jurar”, de Ismael Silva.
Elza Soares em 1966 — O Neguinho e a Senhorita
Bambino
Elizeth Cardoso e Elza Soares – Não me diga adeus
Ziriguidum
Baby do Brasil e Elza Soares em 2018. As duas cantam “Malandro” no espetáculo “Jazz & Divas – Uma Homenagem a Elza Soares”, concebido e dirigido por Allex Colontonio. O espetáculo marcou a reabertura do Auditório Simón Bolívar do Memorial da América Latina.
Republicou isso em REBLOGADOR.
CurtirCurtir
Que presente relembrar e reconhecer a Elza Soares através de suas palavras. Obrigada, Sonia!
CurtirCurtir
Linda homenagem!
CurtirCurtir