Delfim Netto, 89 anos, firme na corrupção e no apego ao poder. Do regime militar ao governo Dilma, são cinquenta anos de experiência em saquear os cofres públicos.
É um caso emblemático de flexibilidade ideológica impulsionada pela vocação para ser siamês do poder. Afinal serviu aos governos militares e também aos do PT. Talvez achasse que a estatolatria de ambos era mais importante que o restante do cardápio.Nos governos militares estreou com Castelo Branco e se manteve firme na aba do Planalto até Figueiredo (apenas Geisel não o quis por perto). Foi ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento. Tornou-se o czar da economia nacional, manipulou números, arrastou dezenas de brasileiros à bancarrota, engambelou a todos com seu milagre econômico e levou a dívida externa à estratosfera.
Já nos treze anos da “Era do Redescobrimento de Pindorama” foi conselheiro de Lula, elogiou Dilma, fez conluio com Palocci, entrou na secreta folha de pagamentos das empreiteiras e levou 10% da propina de Belo Monte.Delfim só não entrou na lista do Ibama de espécies ameaçadas porque descobriu-se recentemente, em Curitiba, que há muitos outros iguais a ele. Mas, convenhamos, merecia: um camaleão dessa envergadura não se encontra facilmente. Prodígio na arte da sobrevivência política, com a mesma desenvoltura com que colaborou na elaboração do AI-5, assinou a Constitiuição de 1988 e uma coluna na “Carta Capital”.
Quanto à ficha policial, veio do caso Coroa Brastel aos Panama Papers e terminou na Lava-Jato. O que não lhe falta é escândalo de corrupção. A diferença é que jamais havia sido apanhado. No caso Coroa-Brastel, por exemplo, sequer foi julgado, pois a Câmara não deu autorização para tal ao STF.
Deve ser o caso mais longevo da grande fauna corrupta nacional – afinal um certo senador maranhense tem dois anos a menos que Delfim.
A operação que hoje revistou a casa de Delfim se chamava Buona Fortuna. Bem adequado. Boa fortuna (nos dois sentidos) ele sempre teve. Nós, brasileiros, é que tivemos azar por ter tão elástica figura a nos assombrar por cinco décadas.
(Texto publicado originalmente em 9 de março de 2018).