Silence tells me secretly everything (Let the sunshine in). 

Sinto um prazer imenso quando os domingos nascem mergulhados em silêncio. É como se as coisas simples da vida acordassem junto com a gente.

Brasília é pródiga em passarinhos piando ao amanhecer. Ouvi-los, uma delícia reservada a ouvidos onde o amor fez morada.

Se há vento para agitar as folhas das árvores, tenho-o como lucro na contabilidade da vida. E se o ruído de algum carro quebra o encanto das horas, cogito seriamente liderar uma cruzada nacional para que só se saia de carro aos domingos em casos muito urgentes, como parto iminente, perna quebrada, caso de doença grave ou vontade de cantar “Good morning starshine” num conversível.

Não penso em reivindicar leis para instalar silêncio aos domingos. De forma alguma. Já temos leis demais e bom senso de menos. Sem falar na vocação autoritária que toma conta da Nação. Um patrulhamento geral que aos poucos se torna cansativo e antipático. Recuso-me a tomar parte nisso. Mal dou conta de cuidar de minha vida.

Assim, deixemos os carros espalharem seus ruídos entre os pios dos pássaros e o vento que agita a folhagem.  A vida é muito mais bonita quando é plural e não há o olho de um fiscal escrutinando – com azedume – cada detalhe do procedimento alheio.

O dia pleno de doçuras certamente não precisa de louças de grife, com bordas douradas. É suficiente o aroma do café no bule, uma toalha plástica sobre a mesa e a calma do ambiente que dança valsas com a paz do coração.

Let the sunshine in.

Foto: Luiz Guillon.