Na manhã seguinte acordamos cedo e rumamos para o Taj Mahal. Na véspera passamos em uma loja e comprei roupas  indianas (um costureiro de plantão fez os ajustes), já que as malas ainda estavam desaparecidas.

Chegamos ao monumento bem cedo. Uma bruma envolvia o túmulo de Mumtaz Mahal, cujo nome verdadeiro era Arjumand Bano Begum. O mausoléu é o fim de uma história rara na antiguidade: amor e paixão intensos em um casamento real. Mas a princesa persa e o imperador Shah Jahan se amavam e ela morreu ao dar à luz seu décimo-quarto filho. O viúvo planejou todos os detalhes do túmulo situado às margens do sagrado rio Yamuna. Contratou os mais habilidosos artesãos e construtores da época para erguerem e adornarem o conjunto arquitetônico composto, além do prédio principal, de prédios e minaretes que unem os estilos persa, islâmico, hindu e mongol.

Em dezembro faz frio na Índia e a neblina cobre tudo nas primeiras horas da manhã. Na entrada do Taj Mahal, um muro de pedras vermelhas cerca o monumento. É mais uma delicadeza do viúvo Shah Jahan à sua rainha morta: na Índia, as noivas usam véus vermelhos, enquanto o branco é a cor usada nos enterros. Assim, antes de se deparar com o branco da morte de Mumtaz, o visitante é apresentado à sua felicidade conjugal. Logo veio o sol e acendeu estrelas em todo o Taj Mahal. As pedras semi-preciosas de várias cores incrustadas nas paredes refulgiam e brilhavam sob os raios que iluminavam o mármore e a manhã.

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Tudo é exato, simétrico e perfeito no Taj Mahal e a beleza do monumento, cercado de fontes e jardins encantadores, corresponde à fama que desfruta. Nas paredes, flores de pedra e delicada caligrafia. Um lugar para honrar o amor e um marco arquitetônico para traduzir a saudade. Ao sair do edifício, visitamos o Red Fort (o forte vermelho). Ali, Sha Jahan foi preso pelo próprio filho. Nunca pôde cumprir a promessa de fazer um túmulo para si mesmo. Faria par com o Taj Mahal, mas todo em negro, do outro lado do Yamuna. Da cela onde ficou encarcerado o velho imperador, vi o Taj Mahal ao longe. Brilhava como uma lua em meio à caótica Agra. Imaginei o que pensaria Sha Jahan ao contemplar, da minúscula janela, o mausoléu da mulher amada. 

Mais tarde, almoçamos no Maya, um restaurante ótimo. Um olho na paratha e outro nos macacos ladrões. Ao terminar a refeição, eles servem erva doce açucarado para a gente mastigar e o resultado é um hálito delicioso.

Agra é suja, feia e povoada por milhares de mendigos maltrapilhos, mas as estradas que levam à cidade têm as cores de um quadro de Van Gogh. Nelas, sáris brilham em laranjas e azuis. Aqui e ali mulheres carregando latões na cabeça, plantações de trigo, chilli e mostarda entremeadas por pequenos silos feitos de palha. Carroças de búfalo conduzidas por gente de turbante e roupas antigas de repente nos transportam para uma paisagem de milhares de anos. A vida parece ter mudado tão pouco para alguns habitantes desse mundo…

Na volta para Delhi, conhecemos Fatehpur Sikri, a cidade fantasma. Este reino de sonhos construído por Akbar acabou abandonado por falta de água. O conjunto é belíssimo, com os prédios bem preservados, inclusive os jardins, a área do Purdah (harém) e o terraço onde Akbar contemplava as estrelas. Vimos, horrorizados, turistas indianos que pagavam a um moleque de uns dez anos para mergulhar em um poço de mais de 10 metros de profundidade e cheio de uma água parada, assustadoramente verde-musgo. Pútrida.

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Fatehpur Sikri

Um lugar especial é o Fort Amber. No alto de uma montanha, cercado de muralhas, era território dos Rajputs, meus favoritos na história indiana. Vou resumir: os Rajputs são os espartanos da Índia, guerreiros impressionantes, aqueles que nasciam com a espada nas mãos e transpiravam coragem. Entrar no Fort Amber tem toda uma atmosfera que impõe respeito: a maioria dos turistas vem de elefante e entra pelos imensos portões. Nós, não: sou contrária à exploração de animais, então resisti à tentação e fiz apenas um carinho em um hati(elefante).

Impossível não se render à grandeza dos que ergueram lugar tão espetacular.  Nos capítulos finais deste diário, escreverei sobre esta cidade-fortaleza capaz de gravar na memória suas imagens impactantes.  Na escadaria, Alex chorou depois de se perder ao olhar para o muro alto que se estende até perder de vista pelas montanhas. Impactada, eu quase não consegui falar diante da paisagem esmagadoramente bela e da construção que me subjugava.

Depois de visitar Jaipur, já na volta para Delhi, visitamos o templo dos macacos.  Mais uma experiência surreal. Havia um monkey master no lugar! Entramos com ele porque os macacos podiam se tornar agressivos. Sim, ele tinha uma vareta para bater nas divindades mais saidinhas.

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O templo milenar é construído na encosta de uma montanha. Lá na metade da subida tem uma piscina de águas verde-limo-de-vários-séculos onde os discípulos de Shiva (sannyasis/renunciantes, gente que leva o Yoga muitíssimo a sério) tomam banho. Só para fortes.

O lugar é lindo, mas está malcuidado, decadente, começando a desabar. Até  a metade tudo bem, mas  a partir de certo trecho os macacos e pombos fazem cocô no chão e tudo é tomado pela sujeira. Logo na entrada, uma vaca também fez cocô e alguém teve a brilhante ideia de jogar água (só um pouco). O resultado final estava à vista sob a forma de uma diarréia marrom-esverdeada na qual era obrigatório pisar pois era o único caminho. Assim, não é surpresa que, um pouco mais à frente, na área interna do templo, eu relutasse em tirar os tênis  (na Índia é obrigatório retirar os sapatos ao entrar nos templos). Pulei feito uma saracura equilibrista a fim de evitar todos os montinhos à minha frente. Minha alma yogue tentava me acalmar: desapega, supera, respira… Do outro lado da mente, minha alma dona-de-casa-fanática-por-limpeza berrava a plenos pulmões: “Eu quero sair daquiiiiiiiiiii. Tá tudo embosteado!”. Mas Alex adora macacos e queria ver todos os detalhes… Suspirei, conformada, e fui logo abrindo a bolsa para que um suposto guru me marcasse com o vermelhão na testa e me abençoasse.

Suresh nos levou de volta para Delhi e, no dia seguinte, para o aeroporto. Voamos para Bhubaneswar, no Estado de Orissa.

Veja aqui mais fotos do Amber Fort (Link para o Facebook)