“Os contos míticos compartilhados no Diwali variam amplamente dependendo da região e até mesmo dentro da tradição hindu, mas todos compartilham um foco comum que, de acordo com Lindsey Harlan, indologista e estudiosa de Estudos Religiosos, é o caminho para a superação da “escuridão da ignorância”. Contar esses mitos é um lembrete da crença hindu de que o bem acaba triunfando sobre o mal”. *

Hoje foi o dia do Diwali (Deepavali ou Deepawali) na Índia. A festa religiosa anual é conhecida como o festival das luzes. Casas e ruas se enchem de lâmpadas acesas e doces. Como acontece nos grandes festivais indianos, o Diwali está fortamente ligado à arte das grandes epopéias – Mahabharata e Ramayana – e a um grande simbolismo espiritual. O festival está associado a várias divindades, mas carrega um traço de união: é tempo de retidão, auto-investigação e de louvar o conhecimento. Tudo isso é luz.

As três grandes religiões da Índia celebram o Diwali – hinduísmo, sikhismo e jainismo. Mesmo assim, seu significado tradicional e ético é tão profundo que a Índia inteira o celebra, independentemente de religião, até porque incorporou, ao longo dos séculos, festas locais da colheita de outono que se fundiram aos ritos espirituais.

Para os hinduístas, o Diwali representa a destruição de Naraka, o asura, por Krishna. É a metáfora do triunfo da virtude, narrado no Mahabharata. Em várias cidades da Índia o festival lembra a volta de Rama para Ayodhya, após 14 anos de exílio na floresta. Rama, que assim como Krishna é um dos avatares de Vishnu, também derrotou um demônio, Ravana, que havia raptado a rainha Sita e a levado para a ilha de Lanka. Rama é a perfeição moral, que sofre injustiças e perseguições, e retorna vitorioso após longa batalha. No Ramayana, o povo do reino de Ayodhya recebe Rama, Sita, Lakshman e Hanuman com uma festa na qual se ilumina a capital com fileiras (avali) de lâmpadas (deepa), dando assim origem ao nome do festival “deepavali”. Com o tempo, o nome foi simplificado para Diwali, em hindi. Mas, no sul da Índia (onde se passa o Ramayana) a palavra original perdura.

No Jainismo, o Diwali assinala o nirvana do fundador da religião, Mahavira, em 527 antes de Cristo. Entre os sikhs, o Diwali veio a ter significado especial a partir do século 16, quando retornou à a cidade dourada de Amritsar o guru Hargobind, prisioneiro imperador mongol Jahangir. O povo o recebeu com as diyas iluminando as ruas e desde então os sikhs também chamam o Diwali de “o dia da libertação dos prisioneiros”.

O Diwali é muito associado a Lakshmi, a deusa da prosperidade e esposa de Vishnu (lembre-se que Krishna e Rama são avatares de Vishnu). Ela é louvada inclusive pelos budistas Newar, nepaleses que vivem na Índia e reverenciam divindades hinduístas numa demonstração da liberdade espiritual do budismo Mahayana. O início do festival é considerado o dia em que a deusa nasceu da agitação do oceano cósmico pelos Devas (deuses) e os Asuras (demônios ) – uma das lendas védicas encontrada em vários Puranas. Já a noite de Diwali (hoje) é considerada a data que Lakshmi casou com Vishnu e formou um dos casais mais apaixonados do panteão indiano. Outras deusas também são celebradas no Diwali. Os hindus do leste da Índia homenageiam Kali, enquanto as famílias de comerciantes e mercadores oferecem orações a Saraswati, a deusa da música, da literatura e da aprendizagem.

Sempre comemorado no primeiro dia do mês lunar Kartika (entre outubro e novembro), é um período de votos de sacrifício espiritual, orações, autoanálise, meditação e introspecção.

Em resumo, as lâmpadas do Diwali simbolizam a vitória da virtude no ser humano.

Que brilhe a nossa luz.