Há 227 anos foi executado Maximilien de Robespierre. É um personagem que sempre me faz refletir profundamente sobre homens que, cheios de supostas boas intenções e alçados a posições de poder, constroem infernos para outros e para si mesmos.
Chamado de incorruptível, acreditou demais na própria lenda. Faltou-lhe um “memento mori” ou, para dizer o mínimo, um pouco mais de compreensão sobre o ritmo das mudanças nas estruturas humanas. Pagou alto preço por acreditar que sua visão de mundo era a única alternativa para construir uma sociedade mais aprimorada e justa – mesmo que para tal se valesse de inconcebível violência e pavimentasse a rota com sangue e inclemência.
Depois da execução de Luís XVI e Maria Antonieta, abriu-se caminho para o terror jacobino. De passo em passo, o sonho de uma França mais fraterna, igualitária e livre se converteu no pesadelo de uma guilhotina que trabalhava sem pausa. Não hesitou Robespierre em centralizar cada vez mais poder, desprezar opiniões que o contrariassem e, por fim, perseguir e matar milhares, inclusive antigos companheiros de ideal, como Danton, e cientistas como Lavoisier. Intoxicado de si mesmo, mandou para a morte até um de seus melhores amigos, o jornalista Camille Desmoulins. Todos os seus inimigos tornaram-se inimigos da República.
Seus excessos encontraram um fim na mesma guilhotina que tingiu de vermelho o chão da Place de La Concorde. Sem julgamento, sem compaixão.
Na véspera, Robespierre tentou se suicidar com um tiro, por ocasião de sua prisão. Não alcançou seu objetivo. Feriu apenas o maxilar e foi mantido deitado até a hora de ser levado à guilhotina. Antes de morrer, no dia 28 de julho de 1794, viu os mais fiéis companheiros serem executados.
Para ele também serviu a frase que teria pronunciado ao assinar a sentença de morte de Luís XVI: “O rei deve morrer para que o país possa viver”.
A história e a vida dão voltas. Resta-nos aprender.