Há momentos nos quais me sinto profundamente grata por tudo o que me cerca. Ontem foi desses instantes. À tarde, nas montanhas, o sol punha pingos de ouro no riacho e uns pássaros azuis brincavam no pessegueiro coberto de flores. Foi o suficiente para eu me sentir repleta de uma espécie de bem-aventurança feita de simplicidade.
O inverno está no fim – as borboletas Monarca já deixaram a Califórnia e há uma explosão de cores novas. São os dias que antecedem a chegada do que chamo de parto anual da Terra, a primavera.
Um silêncio solene abraçou docemente o meu coração e colocou bálsamos sobre as minhas feridas abertas. Há tanto sofrimento no mundo e não sou insensível a ele. Da mesma forma, carrego o peso das dificuldades e das minhas imperfeições. Aprendo todos os dias a viver comigo, cuidando das dores, reerguendo o meu espírito.
Estar sozinha em meio à natureza tem o efeito de me pôr em estado de graça. Uma cura particular. Percebo a esperança renascendo no meu peito, o amor brotando com redobrada força, maior clareza de pensamento e a voz interna a sussurrar coragem.
Sou grata por esses instantes de contemplação, uma pausa necessária no ritmo frenético de um mundo povoado de lutas colossais, desejos, vaidades e lágrimas.
É como se a Natureza, com um gesto de mão, calasse todos os ruídos de buzinas, de sirenes, de gritos e gargalhadas; e o mundo girasse mais devagar, sob um novo ar, revigorante, impregnado de suavidade e de paz. Os olhos, então se abrem, e é possível ver a poesia secreta que habita cada detalhe do grande corpo da Vida – até mesmo nas humildes flores selvagens, nas folhas secas, nos galhos ainda pelados e no capim se espalhando pelo chão. Dádiva.
E você? O que balsamiza os seus dias?





