A edição de 7-8 de abril de 2020 é dedicada à memória do médico Ângelo Machado, ícone da neuroanatomia.
Pela segunda vez consecutiva, o Brasil registrou recorde de mortes decorrentes do novo coronavírus em um único dia. Nas últimas 24 horas foram 133 óbitos. No total, 800 pessoas foram vítimas da doença no País.
A coluna “Palavra de Médico” traz hoje uma reflexão do Dr. Arthur Poetscher sobre a difícil escolha de submeter um paciente a terapias experimentais.
As principais notícias de hoje são a crescente politização da pandemia e do uso da cloroquina no tratamento dos pacientes mais graves, a morte de crianças e adolescentes em decorrência da Covid-19; e a informação de que o Ministério da Saúde está mobilizando a indústria nacional para produzir 14 mil respiradores artificiais. O governo cancelou a compra de equipamentos chineses por não ter garantia da entrega.
A imagem do dia vem do Rio Grande do Sul e é emocionante. O menino Leonardo Cambruzzi, de 11 anos, vendeu latinhas e doou R$ 21,45 para o hospital São José comprar um respirador. A família dele vive em extrema vulnerabilidade social e recebe auxílio do programa Bolsa Família no município de Antônio Prado na Serra Gaúcha. “No começo me deu medo de entrar lá só com aquele dinheiro, mas quando me veio à mente que poderia estar faltando R$ 21.45 para comprar um respirador e salvar a vida de alguém, entrei sem pensar duas vezes”, disse o garoto. (Leia aqui e aqui).
Da reflexão do médico Arthur Poetscher ao gesto do menino gaúcho, renova-se a esperança na humanidade, capaz de nos surpreender com o pensamento pautado pela responsabilidade e pelo equilíbrio quando tudo em volta parece envolto em caos.
Estatísticas
O Ministério da Saúde atualizou para 15.927 o número de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus no Brasil. Ontem, eram 13.717 casos e 667 óbitos. O aumento no número de casos é de 16,1% e no de mortes, de 19,9%. A taxa de mortalidade chegou a 5%.
No mundo, a pandemia já atingiu 1.504.971 pessoas e causou 87.706 mortes. Em todo o planeta 317.855 pessoas estão curadas da doença, sendo 127 no Brasil.
O maior número de casos de Covid-19 está em São Paulo (6.708 infectados, 428 mortes) e o menor em Rondônia (18 infectados, uma morte). Todos os estados têm casos, 25 com óbitos: São Paulo, Rio de Janeiro (106), Pernambuco (46), Ceará (43), Amazonas (30), Paraná (17), Santa Catarina (15), Bahia (15), Minas Gerais (14), Distrito Federal (12), Rio Grande do Norte (11), Rio Grande do Sul (9), Espírito Santo (6), Goiás (7), Piauí (5), Paraíba (4), Sergipe (4), Pará (6), Alagoas (2), Maranhão (11), Amapá (2), Acre (2), Mato Grosso do Sul (2), Roraima (1) e Mato Grosso (1). Apenas o estado do Tocantins não tem, até o momento, mortes confirmadas pela doença. O índice de letalidade subiu para 5%.
Palavra de Médico
Arthur Poetscher
“Em tempos de crise, precisamos pensar fora da casinha para chegar a soluções”. Perdi a conta do número de vezes que li e ouvi esta expressão. Até concordo com ela, muitas vezes as soluções aparecem onde menos esperamos. Mas também não é um salvo conduto para heterodoxias que coloquem pessoas em risco.
Ontem assisti à aula da brilhante colega de turma Elnara Negri (assista aqui) que, pensando fora da caixinha, seguindo o conhecimento que acumulou em anos e anos de prática clínica, propôs um protocolo novo (e barato) para tentar evitar que a Covid-19 evolua para formas mais graves.
Com grande humildade, Elnara deixou muito claro o tempo todo a ajuda que teve de vários colegas de diversas especialidades e destacou que ainda precisava de comprovação clínica em protocolos que estão sendo elaborados a várias mãos, em grande velocidade. Se precisasse escolher um tratamento para mim ou para minha família (bate na madeira), seguiria este caminho.
Atitudes como a dela se contrapõem ao que vemos por aí. A grande mídia dá voz a muitos prepotentes especialistas de última hora, que vendem o suposto prestígio de seu currículo; e porta-vozes de correntes políticas, que expõem suas verdades carregadas de vieses. Microbiologistas entendem de vírus, não do que o vírus faz no paciente. Gestores conhecem técnicas para evitar prejuízos e estabelecer fluxos e processos, mas não sabem escolher antiviral. Políticos estão de olho em como se manter no poder – os de direita, centro e esquerda – e não são epidemiologistas.
Ao contrário do que muitos leigos possam imaginar, a tomada de decisão na Medicina é baseada na incerteza. Tratamos a hipótese diagnóstica mais provável com o medicamento ou procedimento que apresenta a maior chance de funcionar, ao mesmo tempo que expõe o paciente ao menor risco de efeitos colaterais e complicações.
Não, nunca temos 100% de certeza do diagnóstico nem temos 100% de certeza de que vamos melhorar e não piorar o paciente com nosso tratamento. É um processo mental sofisticado e complexo, e por isso trabalhamos com método e ética que foram amadurecidos ao longo de vários séculos.
A história recente é repleta de catástrofes relacionadas a momentos em que isto foi posto de lado: em 1937, crianças americanas morreram por causa de um xarope com dietilenoglicol; as experiências conduzidas por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial; as malformações causadas pela talidomida no final dos anos 50; o estudo da trovafloxacina em crianças africanas em 1996 – só para citar alguns exemplos.
Por isso, médicos entram em parafuso quando se propõe novas estratégias epidemiológicas e novos tratamentos a toque de caixa, com pressões políticas e econômicas por todos os lados.
Como bem disse minha amiga Angélica Mamanna, sofremos da maldição de Cassandra: conseguimos prever a tragédia, contamos a todos, mas ninguém acredita até que ela acontece”.
Principais notícias
Brasil bate recorde de mortes por coronavírus em um dia; são 133 óbitos apenas nas últimas 24 horas. Leia.
Em Natal, bebê recém-nascido é o mais jovem brasileiro a morrer por causa do coronavirus. Leia.
Falta de garantia para entrega faz Ministério da Saúde cancelar compra de 15 mil respiradores da China, orçada em R$ 1 bilhão. Leia.
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Médicos do RJ relatam ‘rotina de guerra’ no combate ao Covid: ‘Nem no meu maior pesadelo imaginei’. Profissionais ressaltam isolamento social e desmistificam tese de ‘doença de idosos’: ‘Gripezinha não coloca um jovem de 30 anos num respirador sem ter hora para sair’. Leia.
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22 milhões de pessoas já se cadastraram para receber o auxílio emergencial de R$ 600. Leia.
A politização da cloroquina. Leia.
Mandetta: médico que usar cloroquina em casos leves deve se responsabilizar. O Ministério da Saúde recomenda utilização apenas para pacientes diagnosticados com covid-19 em estágio grave ou crítico, mas diz que os médicos estão liberados para decidir caso a caso. Leia.
Médico com coronavírus relata efeitos colaterais com a cloroquina. Leia.
Hospital de campanha contra o novo coronavírus no Riocentro está 85% pronto. Leia.
Veja imagens do exato momento em que uma célula é infectada pelo coronavírus. Assista.
Pesquisas em andamento
O hospital Sírio-Libanês iniciou um projeto de pesquisa para avaliar eventual benefício da infusão de plasma de pacientes que tiveram a forma branda branda de Covid-19 para tratar pacientes que estão com a forma grave da doença. Os potenciais doadores são homens entre 18 e 60 anos que testaram positivo para o coronavirus e desenvolveram formas menos agressivas da doença. Saiba mais clicando aqui.
Cientistas brasileiros vão começar a testar um anticoagulante para tratar casos graves de infecção pelo novo coronavírus. Um protocolo experimental do uso do medicamento heparina está sendo finalizado por profissionais do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, e deve em breve ser avaliado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Leia.
Uma parceria entre o Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), junto com com o Ministério da Saúde, inicia pesquisas para avaliar a eficácia e segurança de medicamentos para pacientes com infecção pelo novo coronavírus (COVID-19). Com o apoio na pesquisa da farmacêutica EMS fornecendo os medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina. Participarão do estudo entre 40 e 60 hospitais. Saiba mais.
Campanhas beneficentes
- O Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) Vila Mariana lançou programa para atender aos profissionais de saúde que lidam diretamente com pessoas contaminadas pelo coronavirus. Esses profissionais vivem diariamente a angústia da maior exposição ao risco, bem como testemunham os sofrimentos de pacientes e familiares, o que produz tremendo impacto sobre a saúde mental. Para doar, clique aqui.
- O Ministério da Saúde criou um canal para receber doações de insumos, materiais e equipamentos para o combate ao coronavírus. Para ajudar, basta enviar e-mail para juntoscontracovid19@saude.gov.br e informar o que pode doar, além das especificações do item e a nota fiscal ou declaração de propriedade. Entre os itens que podem ser doados estão desde máscaras, respiradores a equipamentos para realização de exames, como tomógrafos. Podem doar cidadãos e empresas nacionais ou estrangeiras, organizações internacionais ou mesmo países.
- Em todo o Brasil surgiram campanhas para arrecadar dinheiro e equipamentos de proteção para profissionais de saúde e comunidades carentes. Se quiser fazer alguma doação, clique neste link e escolha uma entre as iniciativas.
Em tempo real
Para acompanhar a evolução do número de casos e óbitos no Brasil, clique aqui.
Mapa da Covid-19 no planeta. Para acompanhar a pandemia no planeta clique aqui
Combate às Fake News
Recebeu no WhatsApp algum vídeo suspeito ou notícia sobre métodos revolucionários para se proteger do coronavírus? Melhor checar antes de espalhar a novidade. Veja as nossas sugestões: você pode entrar na página do Ministério da Saúde (clique aqui) ou no site elaborado pela equipe do G1 (aqui) a fim de conferir se não é boato, alarmismo ou fake news. Outra opção é entrar na página do jornal O Estado de São Paulo, especialmente dedicada às Fake News. O jornal O Globo lançou uma plataforma que ajuda a população a se manter informada sobre tudo acerca do coronavírus. Clique aqui para acessar a plataforma. Há também uma seção inteira da Folha de São Paulo que você acessa clicando aqui.
Atenção: Ministério da Saúde não pede doação de dinheiro.
Diante dos relatos reiterados de golpes que vem sendo aplicados por estelionatários por meio de chamadas telefônicas ou mensagens de Whatsapp, o Ministério da Saúde informa que não pede nem recebe doações em dinheiro, assim como não há fundo exclusivo para receber recursos da população para combate à pandemia de covid-19.
Da mesma forma, o ministro de Estado da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em hipótese alguma solicita doações de recursos da população para combater a pandemia de covid-19. O Ministério da Saúde admite receber doações apenas de insumos, equipamentos e materiais médicos-hospitalares relacionados ao combate à pandemia. Os interessados em fazer doações desse tipo devem procurar o Ministério da Saúde por intermédio do e-mail juntoscontracovid19@saude.gov.br.