I sit in one of the dives
On Fifty-second Street
Uncertain and afraid
As the clever hopes expire
Of a low dishonest decade:
Waves of anger and fear
Circulate over the bright
And darkened lands of the earth,
Obsessing our private lives;
The unmentionable odour of death
Offends the September night.
(September 1, 1939 W. H. Auden)
Setembro chegou com um dia nublado no hemisfério norte. O verão se aproxima do fim. A manhã trouxe um ar gelado, as árvores começam a mostrar folhas amarelas e alaranjadas, os corvos grasnam alto. Por isso é compreensível que aqui se fique mais calado e reflexivo.
Nesta data, há 81 anos, Auden escreveu um poema no qual traduziu seu temor perante o que viria. Havia se iniciado um dos períodos mais sombrios da história humana, a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha e a Eslováquia invadiram a Polônia, iniciando a fase europeia do horror que resultou na morte de mais de 50 milhões de seres humanos.
Imagino quantos, naqueles dias, olharam para as nuvens carregadas e temeram pelos seus amores. Como nós todos, hoje, encurralados pelo desconhecido.
A esperança, entretanto, tem sua metáfora no próprio ciclo da vida. Agora é tempo de recolhimento, de ficar em casa, olhar para si mesmo. Logo haverá de novo dias de sol, de frutos dourados. Virão as flores. Basta ter alguma paciência. Sempre foi assim.
Sete anos após o fim da guerra, foi justamente em 1 de setembro que Ernest Hemingway publicou seu romance vencedor do Prêmio Pulitzer, o magnífico “O Velho e o Mar”. E ficamos mais ricos de arte. Outros 27 anos se passaram e a humanidade comemorou a chegada de uma sonda espacial a Saturno também no primeiro dia deste mês. Após a guerra surgiram grandes avanços científicos, criaram-se obras de arte, livros notáveis foram escritos. A vida moveu suas águas, em um dar e receber que nunca cessa. Flauta de Krishna e tambores de guerra, som de água caindo e lamentos de mães – como ocorre há milênios.
Estou em Muir Woods, onde as nuvens atravessam os estreitos caminhos e preenchem os abismos. As copas de árvores de 800 anos se estendem em direção ao céu, a folhagem densa mal deixa passar pequenos raios de sol. Há sombras sobre a grama e os trevos; e nos regatos a água desliza sobre um leito de pedras. Pássaros desconhecidos piam no interior da floresta de sequoias, cujos corpos vermelhos fazem ruídos como o de portas rangendo. Delicadamente toco os troncos das árvores – uns recobertos de musgo, outros exibindo cascas grossas e, outros ainda, nós de madeira que parecem cicatrizes. Logo os salmões chegarão ao riozinho, que as chuvas vão nutrir. As águas subirão até próximo à ponte de madeira.
Uma paz necessária e almejada finalmente me alcança. Eu me sinto parte dessas árvores que estalam, nadando com os salmões, ouvindo assobiar o vento. É um daqueles raros momentos da vida em que uma integração pacificadora e benéfica toma cada célula do corpo. Um chamado da natureza, algo muito antigo, imemorial e irresistível.
Sinto vontade de perdoar tudo, zerar cada dor passada e presente, fazer brotar o que há de melhor em mim.
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Muir Woods é uma reserva natural ao norte de San Francisco, na California. No alto das montanhas existem as chamadas redwoods, florestas de sequoias, árvores milenares que estão entre os mais antigos seres vivos da Terra.

















Quanta delicadeza…
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Amei esse também.
E tenho tanta vontade de ir nesse lugar. Me fascina a possibilidade de tocar nessas árvores milenares…
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