Há grandeza em Dante Alighieri. Uma tal grandeza que subverte o tempo. Il sommo poeta, o sumo poeta, é daqueles monumentos literários que atravessam os séculos sem perder o poder de seduzir leitores e de pôr o selo de sua influência sobre gerações de outros artistas. Ele e Shakespeare, soberanos entre os deuses da arte da escrita.

Dante nasceu rico e desfrutou de enorme fama ainda em vida. Suas inovações artísticas, construções frasais soberbas e poderosas imagens lhe renderam o paraíso na Terra. O inferno lhe veio por causa da política, que o levou ao exílio em 1302 e o fez morrer longe de sua amada cidade, Florença. Já o purgatório, em vida, foi seu amor por Beatrice Portinari, única habitante de uma região situada entre a matéria e o espírito, onde floresceu um amor avassalador e profundamente idealizado que jamais se concretizou no corpo mas foi capaz de inspirar um dos mais aclamados poemas da história da literatura, A Divina Comédia

Dante só viu Beatrice duas vezes. A primeira quando ambos tinham nove anos de idade. Foi amor à primeira vista, segundo narrou o poeta em sua obra Vita Nuova. A segunda vez foi nove anos depois. Mas esse sentimento platônico – que parece bastante inspirado nas regras do amor cortês (de cujos clichês Dante fugiu na literatura) e da obsessão do poeta pelo número três e seus múltiplos – jamais existiu fora da mente de Dante. Beatrice morreu muito jovem, aos 25 anos. Dante se casou com Gemma Donati e teve três filhos, mas reservou o amor mais sublime para a musa eternizada nos seus textos, a mulher que o guia no caminho da redenção.

A obra de Dante é ampla, embora se costume mencionar apenas a Divina Comédia. Esta merece todos os louros que se lhe oferta. Obra-prima da literatura mundial, é uma jornada metafísica, um longo poema filosófico e teológico que simultaneamente se revela um relato pessoal, um tratado poético sobre crime, castigo e absolvição, magnas virtudes e colossais erros.

Na Divina Comédia, Dante puniu os inimigos e pôs a mulher amada no paraíso, protegida pelo Amor que move o sol e todas as outras estrelas. Sem poder colocar o poeta romano Virgílio – seu ídolo literário e pagão – no mesmo círculo de bem-aventurança, nem assim deixou o grande escritor ser infeliz na Eternidade infernal. É o que fazem os grandes poetas que muito amam: criam na arte seus espaços de perdão e de felicidade possível.

Sob a tutela de Virgílio, Dante visitou o inferno e o purgatório. Graças a Beatrice, chegou ao paraíso.

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Abaixo você lê histórias e curiosidades sobre Dante Alighieri e a Divina Comédia.

Beatrice Portinari

Beatrice Portinari aparece como personagem nas duas maiores obras de Dante – a autobiográfica La Vita Nuova, escrita por volta de 1293, e a Divina Comédia, publicada após a morte dela. Sua influência sobre Dante, entretanto, é muito maior que mera inspiração. Está resumida em um verso de La Vita Nuova esta que é uma das mais potentes declarações de amor da história da literatura: “Eis uma divindade mais forte do que eu, que virá e me governará” (Ecce Deus fortior me, qui veniens dominabitur michi).

O papel de Beatrice na vida do poeta é o de uma força espiritual que o domina e eleva. Ela é a salvadora, a que o guia em direção ao bem e à virtude, uma força que ele acreditava o tornaria uma pessoa melhor, um amor que voltou da morte para salvá-lo de uma eternidade de tormentos. Com ênfase no papel angélico de Beatrice, Dante não economiza nas qualidades morais de sua amada (gentilíssima, abençoada, maternal, radiante e confortadora) e faz poucas referências à aparência dela. Apenas uma vez descreveu sua pele e seus olhos de esmeralda, e enfatizou que era “a mais graciosa das criaturas”.

Segundo Dante, ele e Beatrice se encontraram apenas duas vezes. Difícil também é acreditar na precisa numerologia que marcou esses encontros, dividindo a vida de Dante em períodos de nove anos, algo que coincide com o uso frequente que o poeta faz do número três ou seus múltiplos. Tudo indica que Dante recriou Beatrice em um ambiente essencialmente poético.

Em seu primeiro encontro, aos nove anos de idade, Dante ficou fascinado por Beatrice. Ele a conheceu quando seu pai o levou à casa dos Portinari para uma festa.

Note o impacto que ele diz ter sentido ao vê-la: “Fui tomado por um tremor maravilhoso, que começou no lado esquerdo do meu peito e se espalhou rapidamente por todo o meu corpo, a ponto de eu ter de me apoiar, disfarçadamente, contra um dos retratos na parede da casa, temendo que alguém pudesse notar a minha agitação”. Nos anos seguintes, Dante tentava vê-la e mantinha segredo sobre seu amor, inclusive escrevendo poemas para outras damas, mas tendo-a como musa.

O amor de Dante por Beatrice continuou por nove anos, antes de eles finalmente se encontrarem numa rua de Florença, por onde ela caminhava vestida de branco e acompanhada por duas mulheres mais velhas. Dante narrou que, ao passar, Beatrice se virou e o cumprimentou. A saudação o encheu de tanta alegria que ele se retirou para seu quarto a fim de pensar na amada. Acabou por adormecer e teve um sonho que se tornaria o tema do primeiro soneto de La Vita Nuova. É uma construção literária tremenda. Veja a versão modernizada, em tradução livre e sem a forma de soneto:

“E levando-me à solidão do meu quarto, comecei a pensar naquela dama muito cortês. Fui tomado por um sono agradável, em que uma visão maravilhosa me foi apresentada: parecia haver em meu quarto um névoa da cor do fogo, dentro da qual eu discerni a figura de um ser de aspecto terrível, mas que parecia, além disso, regozijar-se interiormente por ser um assombro de se ver. Ele disse muitas coisas, das quais pude entender poucas, mas dentre elas, estas: “Eu sou teu Senhor”. Em seus braços, parecia-me que uma pessoa dormia, coberta apenas por um pano carmesim. Olhando com muita atenção, percebi que era a Dama da Saudação, a que na véspera se dignou a saudar-me. Aquele que a segurava tinha em sua mão algo que estava queimando em chamas, e disse-me: “Eis o teu coração”. Mas ele ficou pouco comigo. Logo despertou a dama que dormia e a fez comer aquela coisa que ardia em sua mão. Ela comeu como quem temia”.

Beatrice morreu quase nove anos depois, aos 25 anos. Há poucas informações sobre ela. Acredita-se que era filha do banqueiro Portinari e costumava orar na igreja de Santa Margherita de Cerchi, onde está sepultada.

A comédia não era divina

A Divina Comédia foi escrita entre 1304 e 1321, quando Dante estava no exílio. O nome original do poema era simplesmente Comedìa, nome que na época se atribuía a textos com final feliz. O adjetivo Divina veio somente em 1555. Foi dado por outro escritor notável: Giovanni Boccaccio, autor do Decameron e uma das figuras mais importantes do panorama literário europeu do século XIV. Alguns estudiosos o definem como o maior prosador europeu de sua época.

Ao ler a Comédia, Boccaccio ficou tão fascinado que iniciou a crítica literária de Dante e renomeou a obra de A Divina Comédia. Considerado pelos seus contemporâneos uma autoridade na obra de Dante, Boccaccio copiou vários códices da Divina Comédia e foi convidado pelo governo de Florença a fazer uma leitura pública da obra. Estava doente e há escassos registros, mas acredita-se que Boccaccio fez aproximadamente 65 palestras e as interrompeu no Canto XVII do Inferno. Não terminou o projeto, mas deixou um profundo estudo sobre a obra (Esposizioni sopra la Comedia di Dante) e uma das primeiras biografias do poeta (Trattatello in laude di Dante).

Três e seu múltiplos

Inspirado na Santíssima Trindade, Dante apostou em uma simetria matemática baseada no número três. Dividiu o poema em três partes (Inferno, Purgatório e Paraíso) e espalhou alegorias sempre em trios. Cada parte do poema épico tem 33 cantos. No total há 100 cantos porque o poeta adicionou um, a título de introdução.

Inferno, purgatório e paraíso são divididos em nove círculos cada um – revelando a concepção da cristandade medieval.

Foi escrito utilizando a terza rima. São estrofes de dez sílabas, com três linhas cada, que rimam da forma ABA, BCB, CDC, DED, EFE, e assim por diante.

As três partes principais terminam com a mesma palavra: stelle (estrelas).

O inferno da política

Dante pagou um alto preço pelo seu envolvimento com a política de Florença. Seus problemas começaram em 1300, quando foi eleito para ocupar uma das nove cadeiras do governo florentino.

Naquela época, as forças políticas punham como antagonistas os guelfos, (partidários do papa) e os gibelinos, defensores do Sacro Império Romano-Germânico. Em Florença, havia uma subdivisão dos guelfos: os “negros”, que aceitavam a influência papal nos assuntos políticos; e os “brancos”, que defendiam a atuação do papa apenas em assuntos religiosos.

Os “brancos” foram derrotados e Dante, “gelfo branco”, foi julgado à revelia e obrigado a ir para o exílio. O juiz determinou que o poeta e seus aliados fossem queimados vivos, caso retornassem a Florença. Mais tarde, “aliviaram” a sentença: Dante seria decapitado se tentasse voltar. Por amor à sua privilegiada cabeça, o poeta jamais retornou.

Um cadáver disputado

Dante morreu entre 13 e 14 de setembro de 1321, em Ravenna. Tinha 56 anos e há 20 estava exilado, vagando de cidade em  cidade, e havia recusado todas as ofertas para voltar a Florença sob termos que ele considerava injustos.

Acabou por se estabelecer em Ravenna, atual Emilia-Romagna, a convite do governante local. Morou na cidade por apenas três anos, mas seu corpo permanece até hoje na cidade, que não está disposta a deixá-lo ir e já recusou todas as tentativas de Florença para leva-lo.

Dante foi sepultado na igreja de San Pier Maggiore (hoje Basílica di San Francesco) com toda a pompa que Ravenna conseguiu produzir. Depois de um funeral grandioso, seu corpo foi colocado em um sarcófago de mármore. Lá permaneceu pelos 160 anos seguintes. Em 1366, o poeta Bernardo Canaccio acrescentou um epitáfio com uma provocação aos florentinos: “…Aqui está enterrado, Dante, um exilado da terra natal, ele que nasceu de Florença, mãe pouco amorosa.”

Há séculos Florença tenta levá-lo de volta. Ravenna resiste. Um dos mais picarescos episódios ocorreu quando Florença começou a fazer pedidos para que os restos mortais de Dante fossem devolvidos. Obteve o apoio de dois papas Medici, Leão X e Clemente VII. O primeiro pedido foi apoiado por Michelangelo. Em vão. Em 1519, o papa concedeu a Florença permissão para levar o sarcófago, mas os franciscanos que cuidavam do local se anteciparam e secretamente moveram os ossos de Dante para um buraco escondido na parede. A delegação florentina encontrou o sarcófago vazio. Durante muitos anos, os ossos foram mantidos sob guarda armada.

Em Ravenna, os ossos de Dante foram devolvidos ao seu sarcófago original em 1781, ano em que o monumento funerário de Dante foi concluído. No teto deste há uma lâmpada votiva do século 18, continuamente acesa e cujo combustível é azeite das colinas da Toscana, doado por Florença a cada 14 de setembro, aniversário da morte do poeta.

Durante a ocupação francesa, em 1810, os frades que cuidavam do túmulo fugiram da cidade, mas antes esconderam os ossos do poeta numa caixa que já havia sido usada em 1677 para o mesmo fim.

A caixa ficou esquecida até 27 de maio de 1865, quando foi encontrada por um trabalhador que realizava uma obra de restauração por ocasião do 600º aniversário do nascimento de Dante. O jovem estudante Matteucci Anastasio notou as palavras “Ossa Dantis” (Ossos de Dante) na caixa e a salvou de ser jogada em uma vala comum.

O esqueleto quase completo foi exposto ao público em um caixão de cristal antes de ser enterrado sob o monumento.

Os ossos de Dante foram escondidos mais uma vez durante a Segunda Guerra Mundial, para evitar que fossem destruídos por bombardeios. Eles foram enterrados num jardim de março de 1944 a 19 de dezembro de 1945.

Florença ainda não desistiu de ter os restos mortais de seu maior poeta. Para compensar, em 1829 a cidade ergueu um monumento em homenagem a ele dentro Basílica de Santa Croce. s turistas desavisados acham que é o túmulo do poeta.

Sete séculos influenciando a arte

Dante e a Divina Comédia inspiraram gerações de escritores, pintores, desenhistas e músicos. Entre eles, Geoffrey Chaucer, Giovanni Boccaccio, Gustave Doré, Sandro Botticelli, Salvador Dalí, Michelangelo, William Blake, Robert Schumann, Gioacchino Rossini, Franz Liszt, Auguste Rodin, William-Adolphe Bouguereau, Delacroix, Jean-Léon Gérôme, John William Waterhouse, a Irmandade Pré-Rafaelita (especialmente Dante Gabriel Rossetti), T.S. Elliot, Jorge Luís Borges, Piotr Tchaikovski e Dan Brown.

“Nel mezzo del cammin”, o primeiro verso da Comédia, deu título a um dos mais conhecidos poemas de Olavo Bilac.

William Butler Yeats chamou Dante de “a imaginação principal da cristandade” e T.S. Eliot o elevou a um status compartilhado por apenas um outro poeta no mundo moderno, William Shakespeare: “[Eles] dividem o mundo moderno entre eles. Não há um terceiro.” Na verdade – destaca o verbete da Britannica –  “eles rivalizam na criação de tipos que entraram no mundo de referência e associação do pensamento moderno. Como Shakespeare, Dante criou tipos universais a partir de figuras históricas e, com isso, aumentou consideravelmente o tesouro do mito moderno”.

O Pensador representa Dante?

O escultor francês Auguste Rodin tem uma série de obras inspiradas na Divina Comédia. Entre elas, o Portal do Inferno, um conjunto escultórico que representa o Inferno de Dante. No alto dele, As Três Sombras, cuja postura corporal traduz o verso lúgubre de abandonar toda esperança.  

A mais famosa escultura de Rodin, O Pensador, integra o Portal do Inferno. Inicialmente chamada de O Poeta, ela aparece em tamanho reduzido, observando do alto os atormentados do Inferno: os personagens do poema de Dante.

Alguns estudiosos acreditam que a intenção original de Rodin era retratar Dante às portas do Inferno, refletindo sobre a Divina Comédia. Outros rejeitam essa teoria, apontando que a figura está nua enquanto Dante sempre se apresenta vestido ao longo do poema, e que o corpo do Pensador não corresponde à figura de Dante.

Há uma semelhança, ainda, com a estátua representando outro florentino famoso, Lorenzo de Medici. A obra, feita por Michelangelo, tem o nome Il Pensieroso (O Pensador). Posteriormente, Rodin decidiu tratar a figura como uma obra independente e a fez em tamanho maior.

O mesmo aconteceu com O Beijo, outra das mais conhecidas esculturas de Rodin. Ela representa Paolo e Francesca, os amantes adúlteros que Dante encontra no segundo círculo do inferno.

Doce Estilo Novo

Com a expressão toscana Dolce stil nuovo (“Doce estilo novo”), o crítico literário Francesco de Sanctis denominou um dos mais importantes movimentos literários da Itália no século treze. Uma literatura marcada pela introspecção, no qual a inspiração religiosa não se submetia à ortodoxia eclesiástica. Faziam parte do grupo sete poetas, entre os quais Dante Alighieri. O nome dolce stil nuovo é uma expressão do próprio Dante, no Purgatório, da Divina Comédia.

Ponha seus inimigos sob as asas de Satanás

Ao ler os nomes dos condenados aos castigos do inferno, não estranhe se encontrar desconhecidos. Eram políticos, nobres e comerciantes de Florença – a maioria inimigos de Dante  – que o poeta decidiu colocar em alguns dos nove círculos do Inferno. O papa Bonifácio XIII foi um deles. Aí temos uma lição: não se torne inimigo de um escritor: ele pode matá-lo em um de seus livros. Ou colocá-lo no inferno.

A santíssima trindade literária

Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio e Francesco Petrarca integram o que se convencionou chamar de “As Três Coroas” da literatura italiana. Aproxime-se deles com respeito e, se possível, devoção: são grandiosos.

“Pai” do italiano

Dante contribuiu para o nascimento do idioma italiano. Em vez do latim, ele escolheu o dialeto falado em Florença, para escrever a Divina Comédia. O sucesso inspirou outros autores de Florença – especialmente Petrarca e Boccaccio – a também usarem o vernáculo. Foi baseado nas obras de Dante, Petrarca e Boccaccio que o cardeal e gramático Pietro Bembo, no século 16, criou o modelo para o italiano moderno, mais tarde adotado pela Accademia della Crusca.

Pequeno Guia para se aproximar da Divina Comédia

Não é fácil ler a Divina Comédia

Abandone toda esperança de leitura fácil, você que adentra o território de Dante. Mas a leitura é algo possível e bom, uma experiência rica. Busque um lugar calmo e silencioso, concentre-se e mergulhe nas palavras e imagens de Dante. Se o seu cérebro só está acostumado a séries infantilizadas e textos que nada lhe exigem, não espere que ele entre em contato com o refinamento de Dante sem que haja algum estranhamento. É natural. Portanto, persista. Você vai se deslumbrar. O modo medieval de entender o mundo está ao seu alcance, traduzido por um grande poeta. Não se prive disso. Leia o micro resumo abaixo e veja, ao final, os links para ler o texto completo, em Português e no original, além de pinturas sobre Dante e sua obra.

Inferno

Nel mezzo del cammin di nostra vita

mi ritrovai per una selva oscura

ché la diritta via era smarrita.

Assim inicia A Divina Comédia, com o próprio Dante no meio do caminho da sua vida, perdido numa selva escura e longe do caminho certo. Ali, encontra uma montanha que pode ser a sua salvação, mas é impedido de subir por três feras: um leopardo, um leão e uma loba. Prestes a desistir e voltar à selva, Dante encontra o espírito de Virgílio disposto a guiá-lo.

Virgílio foi chamado por Beatrice, que desceu do Paraíso e buscou Virgílio no limbo para ajudar Dante. Virgílio propõe uma viagem pelo centro da terra: iniciaria nos portais do inferno, atravessaria o mundo subterrâneo até chegar aos pés do monte do purgatório e dali seguiriam até as portas do céu.

Virgílio o guia e protege por toda a longa jornada pelos nove círculos do inferno, mostrando-lhe onde são expurgados os diferentes pecados, o sofrimento dos condenados, os rios infernais, suas cidades, monstros e demônios, até chegar ao centro da terra, onde vive Lúcifer. Escapam do inferno por um caminho subterrâneo que leva ao outro lado da terra.

É no início do terceiro canto do inferno que se encontra um dos mais famosos versos  de Dante: “Abandonai toda esperança, vós que entrais”.

O último verso é: E quindi uscimmo a riveder le stelle (Então saímos para ver de novo as estrelas)

Purgatório

Após deixarem o inferno, Dante e Virgílio se vêem diante de uma altíssima montanha: o Purgatório. A montanha ultrapassa a esfera do ar e penetra na esfera do fogo, alcançando o céu. Na base da montanha encontram o ante purgatório, onde aqueles que se arrependeram tardiamente dos seus pecados aguardam a oportunidade para entrar no purgatório propriamente dito. Depois de passar pelos dois níveis do ante purgatório, atravessam um portal e passam por sete terraços, cada um mais alto que o outro, onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais. No último círculo do purgatório, Dante se despede de Virgílio (este era pagão e Dante não ousou coloca-lo no céu) e segue acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o purgatório do paraíso. Finalmente, às margens do rio Letes, Dante encontra Beatrice e se purifica, banhando-se nas águas do rio para que possa prosseguir viagem e subir às estrelas.

Esta parte se encerra com o verso “puro e disposto a salire alle stelle (puro e disposto a subir às estrelas).

Paraíso

Paraíso de Dante é dividido em duas partes: material e espiritual. A parte material segue o modelo cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos formados por sete astros (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno), chamado de o céu das estrelas fixas; e o Primum Mobile – o céu cristalino e último círculo da matéria.

Ainda no paraíso terrestre, Beatrice olha fixamente para o sol e Dante a acompanha até que ambos começam a se elevar. Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra personagens como São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano.

No céu de estrelas fixas, ele é interrogado pelos santos sobre suas posições filosóficas e religiosas. Depois do interrogatório, recebe permissão para prosseguir.

No céu cristalino, Dante adquire um novo sentido, a fim de compreender o mundo espiritual. Há nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em volta de Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, o poeta se separa de Beatrice e tem a oportunidade de sentir o amor que emana diretamente de Deus, algo que Dante define com o verso final da Divina Comédia: “l’amor che move il sole e l’altre stelle” (O amor que move o Sol e as outras estrelas).

Links:

A Divina Comédia (texto completo, em português, no Portal Domínio Público)

Stelle: o mais completo site sobre a Divina Comédia em português (estudos, textos original e traduzido, referências, links, ilustrações)